09 junho 2008

Pronunciamento do Presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, realizado hoje na sede do partido, o Rio.

Na reunião que traçou nova diretriz para o lançamento de candidaturas próprias para prefeito pelo PMDB no Rio de Janeiro, o presidente regional do partido, Anthony Garotinho agradeceu, em um pronunciamento realizado diante de mais de 200 correligionários e repórteres presentes na sede do partido, “a solidariedade prestada pelo PMDB-RJ contra o massacre, feito com a ajuda de setores da mídia, que vem impondo arbitrariedades a ele e à ex-governadora Rosinha”. Ele revelou, também, uma série de “fatos inaceitáveis num regime democrático” e lembrou que “a polícia deve servir à sociedade e não a um partido político”.
Foram estas as palavras de Garotinho no evento:
“Diante do massacre que a mídia vem impondo a mim e à ex-governadora Rosinha, tomei a decisão de tornar público, nesta reunião do Diretório Estadual do PMDB, fatos que considero inaceitáveis num regime democrático, onde a polícia deve servir à sociedade e não a um partido político. E só o faço porque algumas das pessoas que citarei estão hoje aqui presentes.
“Vamos aos fatos. Há meses fui procurado por um cidadão indignado, que me deu a seguinte informação: um amigo que trabalha na Polícia Federal ouviu na repartição que ‘ordens de cima para baixo’ foram dadas, para incluir meu nome em investigações que estavam em curso contra policiais civis do Rio.

“Disse a ele que era impossível, já que toda a minha história era de punição a maus policiais e que jamais acobertei qualquer irregularidade envolvendo policiais corruptos. No dia seguinte, ele reafirmou a história e disse, inclusive, que havia sido criado um constrangimento diante de tais ‘ordens superiores’.

“Foi então que, há três meses atrás, tomei a iniciativa de procurar o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, e lhe contei tudo. Ele achou o fato gravíssimo e dali, do seu gabinete, ligamos para o senador Francisco Dornelles, que estava em seu gabinete, na Fundação Getúlio Vargas, e pediu que eu me dirigisse até lá. Relatei-lhe todos os fatos. Imediatamente, Dornelles pediu à sua secretária em Brasília que marcasse uma agenda com o ministro da Justiça, Tarso Genro. O encontro aconteceu. O ministro negou a Dornelles que existisse sequer alguma investigação a meu respeito.

“Mesmo assim, no dia seguinte, tomei a decisão de procurar o presidente nacional do PMDB, Michel Temer. Este, por sua vez, também estabeleceu contato com o ministro da Justiça. De novo, Tarso Genro – a quem a Polícia Federal está subordinada – negou ter conhecimento de qualquer fato envolvendo o meu nome.

“No mesmo dia, relatei o fato à bancada federal do PMDB e me dirigi especialmente ao deputado federal Marcelo Itagiba, aqui presente: ‘Você trabalhou comigo. Sabe que nunca fui conivente com policial bandido. Estou sendo informado de uma armação contra mim. Dizem que são ‘ordens superiores’. Veja o que você pode apurar junto aos seus amigos da Polícia Federal’. A resposta do deputado Itagiba veio no dia seguinte: ‘Até onde pude apurar não existe nada contra você dentro da instituição’.

“Apesar de tudo isso, continuei sendo advertido por esse amigo que a pressão sobre a Polícia Federal no Rio era enorme e que era impossível não atender a ‘ordens superiores’. Meus advogados, que atentamente acompanhavam os fatos, resolveram, então, pedir um habeas corpus preventivo, no início de março, temendo por uma atitude covarde e arbitrária. O habeas corpus foi negado sob o argumento de que não havia, em nenhuma Vara Federal, qualquer fato que envolvesse o meu nome. Dei ciência do fato a alguns prefeitos, deputados estaduais e toda a bancada federal do PMDB.

“Foi então que aconteceu. No dia 29 de Maio, atendendo a ‘ordens superiores’ e mesmo sem haver nenhuma prova contra mim, tive minha casa revistada durante cinco horas por agentes da Polícia Federal, que até nas peças íntimas de minhas filhas e de minha esposa queriam encontrar alguma prova que pudesse me incriminar.

“Não sei de onde partiram as tais ‘ordens superiores’ para transformar a Polícia Federal em polícia política, que persegue quem é adversário do PT. Talvez esses fatos expliquem melhor aos cidadãos o que está por trás dessa campanha orquestrada para – mais uma vez – tentar jogar a população contra mim.
“A Polícia Federal entrou na casa de Delúbio Soares, que confessou crimes cometidos com dinheiro público? A Polícia Federal entrou na casa de José Dirceu, cassado sob acusação de comandar um esquema que comprava votos em favor do governo? A Polícia Federal entrou na casa de Marcos Valério, que operava o esquema do Mensalão, conforme ficou provado na CPI do Congresso Nacional? A Polícia Federal entrou na casa de Waldomiro Diniz, que foi flagrado em uma gravação de vídeo acertando propina com o bicheiro Carlinhos Cachoeira?

“A resposta para todas essas perguntas é: NÃO. A Polícia Federal não entra na casa dos ‘amigos do PT’. Os federais revistaram a minha casa e levaram uma escritura de um imóvel, datada de 1950; a agenda do motorista que dirige para os meus filhos, fotos de família e um computador laptop, com as aulas que eu e Rosinha ministramos na classe de casais da nossa igreja.

“Devemos, enquanto há tempo, protestar contra a tentativa de retrocesso das garantias e dos direitos individuais, que custaram a vida de tantos brasileiros. O PT não pode usar a polícia para fazer política. Eleição se ganha no debate das idéias e não com truculência e autoritarismo. Não fui a primeira vítima da polícia política do PT. Provavelmente não serei a última.

“Gostaria de lembrar aos presentes um poema de Martin Niemoller, que é um grito de alerta contra a omissão:

Primeiro levaram os judeus,
Mas não falei, por não ser judeu.
Depois, perseguiram os comunistas,
Nada disse então, por não ser comunista,
Em seguida, castigaram os sindicalistas
Decidi não falar, porque não sou sindicalista.
Mais tarde, foi a vez dos católicos,
Também me calei, por ser protestante.
Então, um dia, vieram buscar-me.
Mas, por essa altura, já não restava nenhuma voz,
Que, em meu nome, se fizesse ouvir.”

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