
Em suma, Francis ao Vivo é o registro realizado no Sesc Pompéia, em São Paulo, do show que o maestro vem apresentando desde o ano passado, uma fusão de seus dois trabalhos recentes, Álbum Musical (2004) e Arquitetura da Flor (2006): Álbum é uma reedição das canções de carreira na voz de artistas fundamentais na obra de Francis (gravado originalmente em 95); já o segundo, o último e despojado disco de inéditas. Predominam, neste ao vivo, os grandes sucessos do primeiro, músicas definitivas do cancioneiro nas últimas quatro décadas:
- “A beleza da obra de Hime perdura desde que a primeira música foi composta em 1963. Ele compôs bastante, algo em torno de 400 músicas, mas gravou pouquíssimo. Francis Hime nos deixa a leve impressão de que nunca é tarde”, filosofa Arthur Dapieve.
Sendo assim, o ouvinte pode se deparar com novos "figurinos" aplicados a pérolas como Pivete, A Noiva da Cidade, Embarcação, Trocando em Miúdos, Amor Barato, Atrás da Porta, E Se e Quadrilha (da parceria com Chico Buarque); A Dor a Mais e Tereza Sabe Sambar (com o parceiro primordial, Vinicius de Moraes); e Desacalanto (com Olívia Hime). Estes novos “figurinos” têm a ver com a estética adotada por Francis após o disco Brasil, Lua Cheia, de 2003: “Passei a explorar uma sonoridade mais enxuta, em contraponto à grandiosidade orquestral que caracteriza a maioria dos meus trabalhos até então. Procurei valorizar melodia e harmonia, dando um tratamento despojado às canções”.
A banda formada por Kiko Freiras (bateria), Jorge Helder (baixo) e Gabriel Improta (violão e guitarra), além, é claro, do inconfundível piano de Francis, levam a cabo a musicalidade enxuta (e sofisticada) adotada pelo maestro. E seguem, executando as singularidades estéticas de músicas mais recentes como Sem Saudades (com Cartola), A Invenção da Rosa, Gozos da Alma e a Musa da Tv- esta só no dvd- (compostas com Geraldo Carneiro) e Palavras Cruzadas (com Toquinho). Completam o repertório Pau Brasil (outra da profícua parceria com o esteta Geraldo Carneiro) e Cadê (com Simone Guimarães).
Francis Ao Vivo flagra o ápice da relação que pode ser estabelecida entre um criador e sua obra; leia-se relação como respeito pela própria trajetória, numa época em que o efêmero está em voga. Francis subverte a própria cronologia, mostrando que a maturidade só dilapidou o homem e o artista. Mesmo que soe paradoxal, ele busca em suas referências mais ancestrais, elementos que suprem de frescor a música que produz hoje.Talvez, por isso, o aspecto reflexivo não seja apenas uma primeira e mera impressão...Francis olha para trás mas não pára de criar, tornando mais próximas a canção existente e aquela que ainda não nasceu.
Nos extras do DVD, making-off do show e documentário gravado no estúdio da Biscoito Fino.